"Mas o pai disse a seus servos: Depressa! Tragam a melhor roupa e vistam nele. Coloquem um anel em seu dedo..." – Lc 15:22 (15:11-24)
Certamente, essa é uma das mais conhecidas passagens das Escrituras. Muito já se falou dela. É, também, uma história que se repete todos os dias.
Mas, gostaria de chamar a atenção para a reação do pai, diante da ausência e da volta do filho. Não sabemos o tempo que esse episódio tomou, mas podemos imaginar que poderia ter levado meses, ou anos. E o pai esperava ansiosamente por ele.
Enquanto o filho esteve à sua própria sorte, desfrutando do controle de sua vida, preocupando-se em satisfazer suas paixões mais vis, o pai esperava por ele à porta, em prontidão para recebê-lo no momento em que ele surgisse na estrada.
A derrocada do filho levou-o a ponto de ser rebaixado ao nível mais baixo considerado pelos judeus, o de cuidador de porcos. Era considerado um espúria, impuro moral e cerimonialmente. Algo que expressava sua baixa auto-estima, desrespeito e desprezo. O pecado o levara à mais completa mendicância, desespero e tristeza.
O pai não foi em busca do filho, nem enviou uma comitiva para trazê-lo de volta. Ele esperou. E foi uma espera sofrida. Dia após dia, noite após noite. Ele sofreu, chorou, preocupou-se, prostrou-se, alimentou-se mal, não pensou em outra coisa, caiu de joelhos em oração, esperou. Até que chegou o momento em que o avistou, à distância. Seu coração acelerou-se e, com a respiração ofegante, saiu em disparada em direção ao filho.
O texto diz que "...compadecido dele, correu..." (vs. 20). O vocábulo grego que significa "ser movido de compaixão", é formado do substantivo que significa "intestinos", ou "ventre". Os antigos pensavam serem os intestinos a sede das emoções (uma interpretação metafórica), da mesma maneira que os idiomas modernos usam a palavra "coração".
O pai reconheceu o filho a despeito de sua desfiguração, de seus trapos, de sua aparência abatida, de sua imundície, de seu aspecto repugnante, de sua vergonha e humilhação. Ele correu, movido por uma alegria esfuziante e o abraçou e o beijou. Segundo a gramática grega indica, o pai beijava seu filho repetida e fervorosamente.
Ele não se importou com as posses perdidas, com a desobediência e empáfia do filho. Ele se alegrou porque o filho estava de volta em casa.
- O pai aguardava o filho incansavelmente
- A visão do filho maltrapilho acendeu-lhe grande compaixão
- Ele correu em direção ao filho ignorando a dignidade paterna oriental
- Ele abraçou e beijou o filho não pedindo explicações
Suas atitudes demonstram um amor incondicional, disposto a perdoar e acolher o filho a despeito de todo o resto.
Os servos, pela ordem do pai, tiraram os trapos e vestiram o filho com as melhores roupas. No grego a expressão indica um traje muito fino e principesco, da cabeça aos pés, o tipo de veste usada por pessoas ilustres e de importância, para ocasiões especiais. A veste significa honra, reconhecimento, exaltação. É a mesma "veste de louvor" citada em Isaías 61:3: veste de justiça, da nova vida imortal, da participação na vida e na glória de Cristo, em que os crentes assumem a posição de reis e sacerdotes, filhos de Deus conduzidos à glória. Tudo isso faz contraste com os trapos, que simbolizam seu estado de pecado, a humanidade perdida, o homem isolado de Deus. Em contraposição, o estado do filho exaltado pelas vestes novas, produz no pai o regozijo.
O anel de ouro, símbolo de autoridade e indicação de distinção e riqueza dado a um filho, era sinal de favor ou afeto e, nesse caso, indica o amor incondicional do pai.
O filho chegara descalço, como se fora um escravo, pois os escravos não usavam calçados. Assim, encontramos os três símbolos de liberdade e honra: as vestes, o anel e as sandálias, indicando o que era fruto de perfeita reconciliação com o pai.
E, para completar, o pai mandou preparar um banquete e uma grande festa. O novilho cevado indica que tal desprendimento só se torna possível mediante a obra expiatória de Jesus Cristo, em favor de seu povo.
O filho que estava morto, fala do homem que está espiritualmente morto, mas que agora vive. Deus é a origem de toda a vida e estar separado do Pai significa a morte espiritual eterna. Mas, ali, o filho estava de volta à vida, reconciliando-se com o pai.
A figura do Pai Eterno está expressa nessa parábola. O Pai que recebe e acolhe o filho pecador, em estado indigno, o recebe como é e como está. Ele não olha a aparência externa, mas vê o coração. Ele não se atenta para o rigor dos protocolos, mas enxerga a disposição e as intenções.
Quantas vezes nos afastamos da casa do Pai? Quantas vezes essa parábola se repete na realidade da vida? Pode ser que um filho, na vida real, não se afaste do Pai como o filho da parábola, pedindo "o que tem de direito" para desfrutar a vida. Mas, muitas vezes saímos da casa do Pai buscando nossos interesses, movidos por motivações egoístas e valores efêmeros. E o Pai espera por nós, pois a Palavra diz que Ele "...amou tanto ao mundo, que mandou o Seu filho..." para nos resgatar do inferno dos nossos corações e do desatino da nossa alma. O Pai está lá. Esperando. E, assim que voltamos envergonhados e cabisbaixos por cedermos repetida vez ao nosso encanto pelo que não tem valor, Ele corre em nossa direção com alegria esfuziante, e nos abraça, e nos beija e faz uma grande festa.
Essa é a atitude do Pai que se compadece de nossa loucura e nos acolhe em amor.
Um trecho do cântico "Dia de Festa", de autoria do Pr. Gerson Borges, que corre as comunidades cristãs pelo Brasil, diz:
Na casa do Pai há abundância de alegria,
Na casa do Pai há segurança e proteção,
Na casa do Pai eu vejo tudo o que não via,
Longe do pecado, da minha ilusão.
A casa do Pai é o melhor lugar do mundo,
A casa do Pai: casa de oração.
A casa do Pai é anel no dedo, pão e vinho,
A casa do Pai é o nosso próprio coração.