Promessas

"Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e, em troca, darei um coração de carne." Ez 11:19


A palavra "promessa", no grego, é "epangélomai", que significa "anunciar", "proclamar", "prometer", "professar", "prometer de antemão", "aviso", "promessa".

"Epangélomai" deriva da raiz "angel", a mesma raiz da palavra "euangélion", "evangelho", "boas novas".

No AT, a Septuaginta (a versão grega traduzida do hebraico) não encontra equivalente para traduzir "parasáh", que significa "declaração exata", "informação".

Mas, a despeito da falta de um termo específico, o AT está familiarizado com o conceito. Desde Abraão até Malaquias, Israel estava constantemente em movimento por aquilo que Deus dizia e fazia e, de um modo ou de outro, sempre ficava dentro de uma área de tensão constituída pela promessa e o cumprimento.

Isso fazia parte do plano da revelação gradual de Deus. Geralmente o cumprimento aparece parcial ou simbolicamente, que não revela a totalidade do plano divino. Israel se vê forçado, em cada situação a reinterpretar as promessas antigas e é conclamado à expectativa mediante novas proclamações de salvação.

A promessa feita por Deus a Abraão, em Gn 12:1-3 é fundamental para a existência de Israel dentro da promessa:

"Ora, disse o Senhor a Abraão: Sai da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, e vai para a terra que te mostrarei; de ti farei uma grande nação, e te abençoarei, e te engrandecerei o nome. Sê tu uma bênção: abençoarei os que te abençoarem, e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; em ti serão benditas todas as famílias da terra."

Aqui temos uma tríplice promessa: da terra, de uma grande nação e da bênção.

Gênesis desenvolve a promessa da nação, através da história das peregrinações de Abraão e de seus descendentes;l do tema da aliança. Os ensinos dos profetas constituíam em promessas de libertação mediante a fidelidade do povo; a respeito dos momentos de prosperidade e de cativeiro; do sustento nas calamidades e da presença de Deus no meio de Seu povo.

O conceito da bênção de Deus se estende além de Israel, em Gn 12:3, de modo que Javé promete que o Servo será uma "luz para as nações", como está em Is 49:6.

Os escritores judaicos na língua grega adotaram o emprego helenístico do termo: "epangélomai", no sentido comum de prometer. Assim, preparam o caminho para o emprego que Paulo fez de "epangelia" com referência à atividade de Deus.

Nos escritos rabínicos, "betaháh" se emprega como descrição das promessas de Deus. Essa palavra não ocorre no AT, mas deriva da raiz "batah", "confiar", que se acha frequentemente no Talmude (o livro sagrado dos judeus), e, portanto, enfatiza a fidedignidade das promessas da salvação. Trata-se, frequentemente, de referências às promessas feitas aos patriarcas, à idéia de um mundo vindouro e à salvação. A certeza da salvação, para os judeus, é abafada pela doutrina de que a participação da salvação vindoura depende da rigorosa observância da Lei.

NT - A significância teológica do conceito "promessas" desenvolve-se em três grupos de escritos no NT: Lucas/Atos, as Epístolas de Paulo e Hebreus.

Lucas/Atos - Quem faz a promessa é somente Deus; "o Deus da glória" (At 7:5); "o Pai" (Lc 24:49; At 1:4). A promessa fornece compreensão do Seu plano de salvação e leva consigo a realização futura daquele plano, de modo que o cumprimento é um ato de criação (At 13: 23-33; cumpriu-a ao enviar Jesus).

Os que recebem as promessas são os pais (antepassados), Israel como povo da aliança, os discípulos de Jesus no Seu tempo e na diáspora. É através de Israel que os gentios recebem a promessa.

O conteúdo da promessa é a missão histórica de Jesus como "sóter", "Salvador". Por causa Dele, o Crucificado, o Ressurreto, ter operado o perdão dos pecados, todos quantos se voltam para Ele pela fé e que são batizados em Seu nome, recebem o Espírito Santo, o dom de Deus prometido para os últimos dias (At 2:17-21; 32-36; 38-40).

A promessa (epangelia), ao cumprir-se, torna-se nas boas novas, o evangelho (euangelion). At 13:32 emprega o verbo "euangelizesthai", "trazer boas novas", para descrever o testemunho de Paulo o cumprimento da promessa.

É Paulo quem dá o testemunho mais enfático no sentido de que a "epangelia" é um dom gratuito pela graça de Deus. Somente Deus tem o poder absoluto para cumprir a Sua palavra da promessa (Rm 4:21). Ele, é o Deus "que vivifica os mortos e chama à existência as coisas que não existem" (Rm 4:17). O Deus que não pode mentir (Tt 1:2).

Paulo, em sua luta contra a mistura do evangelho com o legalismo judaico, meditou profundamente acerca da questão do relacionamento entre a Lei de Deus e as Suas promessas, entre Suas exigências e Sua graça abundante. Como resposta à teoria judaica  de que a salvação compreendia somente no cumprimento da Lei, o apóstolo demonstrou as revelações que o evangelho de Cristo oferece.

Não é a Lei que nos torna beneficiários da palavra da promessa e do seu cumprimento, mas, sim, a graça justificadora (Rm 4:13).

Posto que a Lei não pode vivificar o homem diante de Deus, nem capacitá-lo em a fazer a Sua vontade, a Lei e a promessa são, na realidade, opostas entre si (Gl 3:18,21-22).

A Lei e a promessa não se podem limitar nem suplementar mutuamente, pois a Lei exige obras, ao passo que a fé nem é obra do homem, nem é realização legalística. Se aqueles que fazem da Lei um caminho de salvação conseguissem desta maneira tornar-se "herdeiros", logo, a fé seria nula e a promessa, sem efeito (Rm 4:14).

O exemplo de Abraão demonstra que a Lei não pode ser condição prévia para o recebimento da promessa, ou da substância da salvação, visto que Abraão vivia antes da Lei ter sido outorgada. A promessa fora dada a Abraão séculos antes da revelação da Lei, e a Lei não deve ser interpretada como cláusula adicional mediante a qual Deus pudesse anular a natureza obrigatória das Suas promessas, como se fosse o caso de algum homem acrescentar um adendo ao seu testamento. Logo, Paulo emprega a figura de "diathekê", "testamento", "aliança", em Gl 3:15-18, para ressaltar a natureza irrevogável das promessas de Deus.

II Co 7:1 deixa claro que não é a nossa santificação que leva a efeito o cumprimento das promessas; pelo contrário, as promessas tem efeito santificador sobre nosso modo de viver.

Para Paulo, é fundamental que todas as promessas de Deus receberam Seu "sim" em Cristo (II Co 1:20). O envio de Jesus, bem como tudo quanto Ele fez, é a ratificação ativa da parte de Deus de todas as Suas promessas de salvação.

O ministério de Cristo em Israel demonstrou a verdade de Deus, e foi levado a efeito a fim de confirmar a promessa dada aos patriarcas (Rm 15:8). Ao morrer em nosso lugar sob a maldição que é a ameaça feita pela Lei contra todo transgressor, preparou o caminho para o envio do Espírito Santo. Morreu "para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em Jesus Cristo, a fim de que recebêssemos pela fé o Espírito prometido" (Gl 3:14).

O Espírito Santo é mencionado de modo predominante como dom prometido salvação Gl 3:14; Ef 1:3). Tendo em vista a estreita associação do Espírito Santo com a vida eterna, não é de se estranhar que em Tt1:2 a "vida eterna" seja mencionada como a substância da promessa.

Historicamente, Israel é o primeiro a receber a promessa. Os gentios ficavam fora da promessa, sendo que esta era vinculada com a ordem da aliança (Ef3:6).

Em Gl 3:16, Paulo interpreta "o descendente de Abraão", não como palavra coletiva, mas, com referência ao único indivíduo, Cristo. É Ele o herdeiro universal; os crentes são apenas "co-herdeiros com Cristo". Visto, porém, não ser a descendência física de Abraão, mas, sim, a fé em Jesus Cristo, que nos dá direito à herança, os crentes dentre os gentios também sao co-herdeiros e co-participantes da promessa em Cristo Jesus (Ef 3:6).
A carta aos Hebreus conclama seus leitores a se firmarem nas promessas e a testificarem da fidelidade a Deus para com a Sua palavra. O escritor tem em mente "uma nuvem de testemunhas" (Hb12:1), que testificaram do caráter e da profundidade de sua fé, não somente através das intervenções divinas nas suas vidas, como também mediante a perseverança (paciência) pessoal. Como crentes, viveram as suas vidas com fundamento nas promessas divinas e tendo por alvo estas mesmas promessas.

O conteúdo das promessas mencionadas em Hebreus e a bênção de uma enorme descendência (HB 6:14), o descanso, e a nova aliança, que, tendo por fundamento a remissão dos pecados, oferece a perspectiva da "herança eterna" (Hb 9:15).

Hebreus também fala que na antiga aliança as promessas não foram completamente cumpridas, nem poderiam sê-las. As promessas devem ser interpretadas em termos do evangelho, como referência à salvação em Cristo (Hb 4:2).

Cristo é "mediador de superior aliança, instituída com base em superiores promessas" (Hb 8:6).

A nova aliança entrou em vigor mediante a morte de Jesus, o que significa que o cumprimento das promessas aproxima-se sempre mais (Hb 10:25,37).

É preciso permanecer firme, não abandonar a confiança e guardar a firme confissão da esperança, sem vacilar (Hb 10:23). As promessas de Deus são inquebráveis; são juramento divino (Hb 6:13). Hebreus ressalta a importância do povo de Deus observar a exortação no sentido de serem diligentes e apegarem-se às promessas (Hb 6:11-12).


"Perto está o Senhor dos que tem o coração quebrantado, e salva os de espírito oprimido/abatido." Sl 34:18

"Você e o meu servo, eu o escolhi e não o rejetei. Por isso não tema, pois estou com você, não tenha medo, pois sou o seu Deus; declara o Senhor, seu Redentor, o Santo de Israel." Is 41: 9-10




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Bibliografia 


Dicionário Internacional de Teologia do Novo Testamento - Lothar Coenen & Colin Brown - Vida Nova

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