Um Estudo Sobre Perdão

Introdução

O intuito deste estudo não é esgotar o assunto, mas trazer à discussão o conceito secular e o conceito bíblico a respeito do “perdão” e, à luz da Palavra, aplicar às nossas vidas através da troca de experiências.

• O perdão é um resgate, uma cessão, não um empréstimo (ele não dá para, depois, tomar de volta).
• O perdão é gratuito e incondicional.
• O perdão depende de uma parte, não das duas.
• O perdão liberta, desobriga.
• O perdão não depende sentimentos, mas de obediência.
• O perdão traz cura e vida.
• O perdão vence a rejeição ao devedor.
• O perdão é fruto do amor de Deus.
• O perdão expressa o caráter e o amor sacrificial de Jesus.
• O perdão apaga a dívida e não mais se lembra dela.

Baseado nesses conceitos, vamos ver o que diz a definição semântica, a psicologia e a Palavra de Deus.

Conceito semântico

Perdão – É um processo mental ou espiritual de cessar o sentimento de ressentimento ou raiva contra outra pessoa ou contra si mesmo, decorrente de uma ofensa percebida, diferenças, erros ou fracassos, ou cessar a exigência de castigo ou restituição.

O perdão pode ser considerado simplesmente em termos dos sentimentos da pessoa que perdoa, ou em termos do relacionamento entre o que perdoa e a pessoa perdoada. É normalmente concedido sem qualquer expectativa de compensação, e pode ocorrer sem que o perdoado tome conhecimento (por exemplo, uma pessoa pode perdoar outra pessoa falecida ou que não se vê há muito tempo). Em outros casos, o perdão pode vir através da oferta de alguma forma de desculpa ou restituição, ou mesmo um justo pedido de perdão, dirigido ao ofendido, por acreditar que ele seja capaz de perdoar.
O perdão é o esquecimento completo e absoluto das ofensas, vem do coração, é sincero, generoso e não fere o amor próprio do ofensor. Não impõe condições humilhantes tampouco é motivado por orgulho ou ostentação. O verdadeiro perdão se reconhece pelos atos e não pelas palavras. (Fonte Wikipédia)

Conceito clínico terapêutico - Psicologia do perdão

Pesquisas e estudos vêm comprovando os benefícios, tanto mentais quanto físicos, do ato de perdoar. O Dr. Fred Luskin, autor de O Poder do Perdão, que estuda o assunto há anos, diz que o ato de perdoar envolve tudo isso e ainda muito mais. Pesquisas e estudos vêm sendo desenvolvidos nesses últimos anos para mostra e comprovar o poder e os benefícios do perdão.
Após ter sido muito magoado por um grande amigo, Luskin conseguiu, sozinho, achar uma forma de perdoar-lhe, e quis investigar se a sua técnica funcionaria com outras pessoas em casos semelhantes ou em casos mais graves. E desde então, deu início a suas pesquisas.

Luskin descreve o perdão como sendo uma forma de se atingir a calma e a paz, tanto com o outro quanto consigo mesmo. O perdão reduz a agitação que leva a problemas físicos. Perdoar reduz o estresse que vem de pensar em algo doloroso, mas não pode ser mudado. Ele também limita a ruminação que leva a sentimento de impotência que reduzem a capacidade de alguém cuidar de si mesmo. O perdão é uma cura. É possível que pessoas possam perdoar alguém, mesmo ainda estando irada ou magoada com ela. A diminuição da ira e de mágoa vem de se vivenciar o perdão. O perdão é a experiência interior de se recuperar a paz e o bem-estar. Pode acontecer de alguém perdoar e a raiva voltar depois, isso é normal. Dessa forma, o perdão é um processo que deve ser praticado. Se você permanece falando ou pensando com rancor de alguém, então o perdão ainda não aconteceu. A ausência de perdão causa estresse sempre que se pensa em alguém que nos feriu e com quem não fizemos as pazes. Isso prejudica o corpo e provoca emoções negativas.

OS NOVE PASSOS DO PERDÃO - Segundo o Dr. Fred Luski

1. Saiba exatamente como você se sente sobre o que ocorreu e seja capaz de expressar o que há de errado na situação.
2. Comprometa-se consigo mesmo a fazer o que for preciso para se sentir melhor.
3. Entenda seu objetivo. Perdoar não significa necessariamente reconciliar-se com a pessoa que o perturbou, nem se tornar cúmplice dela.
4. Reconheça que o seu aborrecimento vem dos sentimentos negativos e desconforto físico de que você sofra agora.
5. Pratique técnicas de controle de estresse para atenuar os mecanismos de seu corpo.
6. Você pode esperar saúde, amizade e prosperidade e se esforçar para consegui-los. Mas, lembre que você não tem o poder para fazê-las acontecer.
7. Em vez de reprisar mentalmente sua mágoa, procure outros caminhos para seus fins.
8. Em vez de se concentrar nas suas mágoas, aprenda a busca o amor, a beleza e a bondade ao seu redor.
9. Modifique a sua história de ressentimento. Passe de vítima a herói na história que você contar.

Conceito Bíblico

Texto: Colossenses 2:13b,14

“Ele nos perdoou todas as transgressões, e cancelou a escrita de dívida, que consistia em ordenanças, e que nos era contrária. Ele a removeu, pregando-a na cruz...” (NVI)

“Ele perdoou todos os nossos pecados e anulou a conta da nossa dívida, com os seus regulamentos que nós éramos obrigados a obedecer. Ele acabou com essa conta, pregando-a na cruz...” (Linguagem de Hoje)

“...perdoando-vos todas as ofensas, havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio {de nós,} cravando-a na cruz...” (Corrigida)

“...perdoando todos os nossos delitos; tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz...” (Atualizada)

“É ele que nos perdoou todos os pecados, cancelando o documento escrito contra nós, cujas prescrições nos condenavam. Aboliu-o definitivamente, ao encravá-lo na cruz...” (Católica)

“Ele nos perdoou todas as nossas faltas: apagou, em detrimento das ordens legais, o título de dívida que existia contra nós; e o suprimiu, pregando-o na cruz...” (Jerusalém)

Exegese – palavras chave encontradas no texto grego (transliteradas)

Exaleipsas - Particípio aoristo ativo de exaleipso “Riscar”, “apagar”. A palavra era usada para o apagar de uma experiência na memória ou para cancelar um voto, ou ainda para anular uma lei, ou cancelar um débito. Também era usada para o processo de “apagar” um papiro.

Sheirographon – “Escrito à mão”, era usado como um termo técnico para o reconhecimento escrito de um débito. Era como uma nota promissória, assinada pessoalmente pelo devedor. Tal palavra tornou-se a indicação comum de dívidas legais tendo sido incorporada ao volcabulário legal romano. A lei mosaica exige tanto do homem que deve ficar perpetuamente sem cumprimento, ou seja, torna-se uma testemunha perene sobre como o homem, por si mesmo, não pode agradar a Deus. Desse modo o homem está sempre em dívida moral, devendo mais do que os seus recursos morais podem saldar. Essa lei mostra bem a obrigação do homem, mas não lhe oferece ajuda para cumprir sua obrigação.

Dogma – “Decreto” – A palavra refere-se à obrigação em forma de lei ou edito, colocados num local público para que todos os passantes pudessem ver. O dativo é descritivo, ou seja, um documento que consiste de decretos.

Ytenantios – “Oposto”, “contrário”, “hostil” – Descreve a hostilidade ativa.

Erken – Perfeito, indicativo, ativo airô – “Remover”, “levantar”, “tirar”, “levar”, “tirar do meio”, “por delado”.

Meson – “Meio”, combinada com o verbo é uma forte expressão significando “tirando de nosso campo de visão”.

Proselosas – Particípio aoristo ativo de proselóo - ”Cravar”, “pregar”. O particípio é modal e descreve a maneira em que Cristo removeu o escrito. Ele cravou a lei mosaica, com todos os seus decretos, na cruz, e ela morreu com Ele. A lei não tem mais poder sobre nós.

Textos paralelos

Em Cristo temos a redenção – “Nesse Filho, pelo seu sangue, temos a Redenção, a remissão dos pecados, segundo as riquezas da sua graça.” Ef 1:7
O Espírito Santo abre nossos olhos – “...para abrir-lhes os olhos, a fim de que se convertam das trevas à luz e do poder de Satanás a Deus, para que, pela fé em mim, recebam perdão dos pecados e herança entre os que foram santificados.” At 26:18

Pecado apagado – dívida perdoada – "Sou eu, eu mesmo, aquele que apaga suas transgressões, por amor de mim, e que não se lembra mais de seus pecados.” Is 43:25

Depende de quebrantamento – “Só ele cura os de coração quebrantado e cuida das suas feridas.” Sl 147:3

A comunhão em Cristo tem poder de cura – “Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz.” Tg 5:16

A reconciliação restaura a comunhão – “Portanto, se vc estiver apresentando sua oferta diante do altar, e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta.” Mt 5:23,24

O amor de Deus faz com que sejamos “suporte” para o outro – “Suportem-se uns aos outros e perdoem as queixas que tiverem uns contra os outros. Perdoem como o Senhor lhes perdoou. Acima de tudo, porém, revistem-se do amor, que é o elo perfeito.” Cl 3:13,14

O amor de Deus em nós nos afasta de nossas inclinações naturais – “Livrem-se de toda amargura, indignação e ira, gritaria e calúnia, bem como de toda maldade. Sejam bondosos e compassivos uns para com os outros, perdoando-se mutuamente, assim como Deus os perdoou em Cristo.” Ef 4:31,32

O poder da reconciliação está na cruz de Cristo – “Tudo isso provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por meio de Cristo e nos deu o ministério da reconciliação, ou seja, que Deus em Cristo estava reconciliando o mundo, não levando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a mensagem da reconciliação.” II Co 5:18-20

Outra palavra que aparece no NT, traduzida como perdão, é:
aphíemi – “deixar”, “soltar”, “cancelar”, “remir”, “perdoar” – No grego, o emprego jurídico da palavra é importante: “desobrigar de um vínculo legal; “absolver”; “isentar de culpa”. A palavra é empregada, inclui o cancelamento do efeito do pecado cometido (Mc 2:5; Jo 8:11), e a aceitação do pecador (Lc 15:20; Cl 1:13,14) a quem se dá uma vida nova, juntamente com a promessa da vida eterna (Lc 23:43; Mt 5:43-48; Jo 14:19b).

O perdão se associa estreitamente com a morte de Jesus na cruz (Hb 9:22; Rm 8:32). Na Ceia do Senhor, faz-se referência ao efeito reconcialiador da morte de Jesus, com as palavras “sangue da aliança, derramado... para remissão de pecados” (Mt 26:28).

O arrependimento, metanoia – “conversão”; “remorso”; “arrependimento”; “mudança de mente”) e a confissão dos pecados (Mc 1:15; At 2:38; 5:31; I Jo 1:9; Hb 6:1,6; Tg 5:16) não são obras oferecidas a Deus. Pelo contrário, são a aceitação, levada a efeito pelo próprio Deus, do Seu veredito pronunciado contra o “velho homem”, e a condição de abertura diante da palavra de libertação (At 19:18).

Nem se pode considerar que a disposição do homem para perdoar, com a qual a declaração divina do perdão é estreitamente vinculada (Mt 6:12, 14,15; 5:23,24; Mc 11:25; Lc 6:37) é uma condição prévia meritória. Pertence à vida nova que foi outorgada. Onde esta já foi recebida, é o sinal natural e diário da gratidão do pecador perdoado. O homem perdoa seu devedor (Mt 6:12) e até o seu inimigo (Mt 5:38-48; Rm 12:19) como consequência do perdão da parte de Deus, em Cristo. O perdão ocorre porque Deus Se dá completamente no sacrifício de Seu Filho (II Co 5:21; Rm 8:32).

Assim, em Cristo, o homem torna-se um pecador perdoado (Rm 8:1) e uma “nova criatura” (II Co 5:17). Este ensino representa um resumo e consolidação lógica da pregação cristã primitiva do perdão.