A oração nos humaniza

sábado, 30 de julho de 2016

A oração nos humaniza

Há algum tempo o pastor Ed René Kivitz, pregando sobre a oração, disse: "Nós oramos para nos humanizarmos". O peso destas palavras é brutal. Remete ao rompimento da relação do homem com Deus e à perda, quase que completa, do imago dei – a imagem e semelhança com Deus. Imagem que ficou distorcida, ofuscada, pela alienação causada pelo pecado, ou, pelo fato do homem ter escolhido seguir seu proprio caminho.

Quanto mais o homem se distancia de Deus, mais a imagem de Deus se desfigura nele. O homem se bestializa, se dessensibiliza, se endurece. É como uma pessoa que vai perdendo a memória e sua identidade se esvai, até se extinguir.

Mas, quando nos aproximamos do Senhor algo começa a mudar em nós. Quanto mais nos relacionamos com Ele, mais assimilamos a Sua forma, o Seu caráter e gradativamente sua essência toma lugar em nossa vida.

A oração nos humaniza, porque nos aproxima de Cristo em Sua humanidade, na qual somos conformados a ponto de o humano ser absorvido pelo divino, das coisas velhas em nós perderem o sentido e assumirmos, cada vez mais, nossa nova identidade nEle.

Orar, interagir, relacionar-se com o Criador é voltar à origem, ao plano inicial, nos distanciando do Adão e nos aproximando do Cristo.

A oração nos torna humanos como Cristo, homem, cheio de misericórdia, compaixão, amor solidário, frutos da relação com o Espírito do Pai.

"E todos nós, que com a face descoberta contemplamos (refletimos) a glória do Senhor, segundo a Sua imagem estamos sendo transformados com glória cada vez maior, a qual vem do Senhor, que é o Espírito." II Co 3:18

"E não se amoldem ao padrão deste mundo, mas transformem-se pela renovação da sua mente, para que sejam capazes de experimentar e comprovar a boa, agradável e perfeita vontade de Deus." Rm 12:2

"...até que Cristo seja formado em vocês." Gl 4:19

"...até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do Filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da plenitude de Cristo." Ef 4:13

"...a serem renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da verdade." Ef 4:23,24

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O evangelho que não move uma pessoa na direção da outra não é o evangelho.

Em 2015, quando do aniversário de 45 anos da Fraternidade Teológica Latino Americana, o Pr. René Padilla disse que a Teologia deve ser feita "com poeira nas sandálias", fazendo uma alusão à Teologia realizada por Jesus, que percorria as colinas da Palestina e Galiléia pregando o Evangelho do Reino. Isso nos fala da Teologia feita no chão do nosso contexto, na realidade da nossa vida, onde moramos, onde trabalhamos, onde congregamos..., porque é na realidade das nossas lutas, dores, vitórias e derrotas, conquistas e perdas, que percebemos e difundimos o Seu amor, Sua graça e compaixão. "Fazer Teologia", é cumprir o chamado de "despenseiros dos mistérios de Deus", revelados na pessoa de Cristo (I Co 4:1,2), levando a mensagem que o Filho de Deus – o próprio Deus – eliminou a separação que havia entre o Pai e o homem. Este ofício não é reservado a uma "elite espiritual" misticamente escolhida para realizar uma divina tarefa, mas a todos os que confessam Jesus Cristo como o Senhor, embaixadores do Reino, comissionados a levar a paz, a mensagem da vida e o testemunho fiel que é hábil para transformar, para regenerar. Fazer Teologia é isso. No lugar que estamos, do jeito que somos.
Deus não livra o que nEle crê de passar por lutas, dificuldades, enfermidades, decepções, frustrações, sofrimentos, injustiças, perdas, derrotas, traições, injúrias, violências, rejeições… mas, segue lado a lado com aquele que nEle deposita a sua esperança. Ele nunca está sozinho.
Não há dúvidas de que estamos vivendo o chamado "final dos tempos". Não na forma do senso comum que alardeia o fim do mundo. Mas, na versão bíblica que aponta para a recriação, a restauração de toda a obra criada desfigurada pela alienação causada pelo pecado. Essa recriação se dá na obra perfeita e reconciliatória de Jesus Cristo.
Quando trabalhamos com ação social, entendemos a verdadeira vocação da igreja de Jesus Cristo. Seu lugar é fora de suas paredes e dimensões eclesiásticas, onde Ele estaria. E está.
Escolhas. Diariamente somos colocados diante de situações nas quais temos que tomar decisão. A paleta de opções é infinita. Qual caminho seguir? O que me parece bom hoje, amanhã pode não ser mais. Deus nos fez assim. Ele nos deu o poder de escolhermos nosso caminho, mesmo quando a escolha é voltada para nós mesmos, para os nossos interesses e não os dEle. Ele poderia ter-nos criado como máquinas programadas para adora-Lo. Mas, preferiu criar seres com vontade própria, para que eles escolhessem relacionar-se com Ele. Não porque foram feitos para isso, mas porque optaram, escolheram. Quando o homem entende isso, e seu relacionamento com Deus se dá por vontade própria, ele desfruta de uma nova dimensão assimilando Sua vontade a ponto de dizer como o Filho: "não se faça a minha vontade, mas a Tua", porque ela é perfeita.
Quando somos tocados pelo poder terapêutico de Deus, pela ação de Seu amor e poder transformador, pela cura de nossas feridas mais antigas na alma, nos distanciamos do nosso eu – o velho homem – e nos aproximamos da nossa verdadeira identidade em Cristo.
Quando as pessoas buscavam a Jesus com suas enfermidades, misérias, dores, Ele as recebia como elas eram, do jeito como estavam. Não se importava se elas O procuravam para sanar suas dores, ou satisfazer seus interesses. Ele as acolhia com carinho, respeito e compaixão. Mas, após o primeiro contato com Ele, elas já não eram as mesmas. O interesse voltava-se para o que Ele era, muito mais pelo que Ele poderia dar-lhes. Não há como ter um contato com Jesus de Nazaré e permanecer o mesmo. Essa experiência é real e continua disponível a todo aquele que se aproximar dEle com sinceridade.
"Os olhos do Senhor voltam-se para os justos e os seus ouvidos estão atentos ao seu grito de socorro… O Senhor está perto dos que tem o coração quebrantado e salva os de espírito abatido." (Sl 34:15,18 – NVI) Quando quiser falar com Deus, não pense que Ele é um ser distante, ocupado demais para perceber suas dores. A Bíblia nos apresenta Deus como um ser relacional, que busca ter comunhão conosco, a despeito de nossa pequenez. Ele se importa com o que temos a dizer-Lhe. O que Ele quer de nós, é um coração quebrantado, isso significa dizer, desprovido de altivez, orgulho, egoísmo ou prepotência, mas, inundado por humildade, gratidão, compaixão e profundo respeito. Estar quebrantado diante de Deus é um modo de vida. Seus olhos e ouvidos estão sempre prontos a acolher os que assim se aproximam dEle e recebe-los com Seu abraço.
Quando Paulo disse a Timóteo: "…exercite-se na piedade…" (ITm 4:7 – NVI), ele estava referindo-se à cultura esportiva da época, que fazia com que os atletas se empenhassem diariamente no preparo para os torneios. Implicava em compromisso, consistência e disciplina. A prática da piedade, da misericórdia e compaixão, deve ser exercida da mesma forma. Sentir o sofrimento do outro e dividir com ele o peso de suas lutas é resultado de uma vida treinada no amor prático de Jesus Cristo.
Não basta conhecer a Deus intelectualmente. Se não acontecer a experiência de transformação na alma, tal conhecimento não passará de religiosidade.
Deus encontra valor em nós, que nós não percebemos.

Daniel Belmont | impressões

sábado, 30 de julho de 2016